Resumo
Este artigo procura mostrar a importância do coaching nos programas comportamentais de segurança e um sistema simples para a criação e manutenção de hábitos seguros numa determinada empresa. As informações contidas neste artigo são fruto de quase uma década de pesquisa teórica e prática, resultado da formação e aumento das competências de inúmeros funcionários e empresas dos mais diversos tamanhos e segmentos. O trabalho de campo foi fundamental para que fossem identificadas as dificuldades que impedem a manutenção dos conceitos dos programas comportamentais de segurança.
Introdução
Um mesmo programa comportamental de segurança pode gerar resultados extremamente positivos numa empresa e ser um fracasso noutra. Muitas empresas continuam a investir fortunas e não conseguem obter sucesso na redução de acidentes e incidentes. Esta diferença está relacionada principalmente com a falta de coaching adequado antes, durante e após a implantação de um programa comportamental de segurança. No final deste artigo, o leitor terá condições de avaliar se a sua empresa está apta a implantar um programa comportamental de segurança e o que deve fazer para que hábitos seguros sejam criados e mantidos até que uma nova cultura com hábitos seguros seja desenvolvida e mantida.
Criando novos hábitos
Atualmente existem dezenas de programas comportamentais de segurança em todo o mundo, sendo que alguns deles há décadas. Se consideradas as adaptações feitas pelas empresas, então serão centenas de programas diferentes. Diante de tantas opções, qual é o melhor programa comportamental de segurança? Infelizmente esta pergunta não pode ser respondida tão facilmente, pois cada empresa é formada por pessoas, processos e padrões culturais diferentes, entre centenas de outros fatores, como por exemplo:
1. Quais são as motivações que impulsionam a sua empresa a implantar um programa comportamental de segurança?
2. Quais são os objetivos que a sua empresa pretende atingir?
3. Em quanto tempo e como pretende alcançar este objetivo?
As respostas a estas perguntas irão direcionar ao melhor programa para sua empresa, podendo inclusive ser nenhum.
Exatamente, nenhum! Se entre as motivações não estiver o comprometimento da alta e média administração, há grande probabilidade de nenhum programa funcionar. Para que este conceito fique claro, a empresa será comparada a uma família onde o gerente/diretor é o pai e os demais funcionários são os filhos. Por mais que os pais digam aos filhos o que estes devem fazer, os filhos tendem a seguir e repetir as ações dos pais, ou seja, as crianças fazem o que elas veem. Isso significa que os atos dos gestores devem condizer com as ordens e orientações dadas por estes, caso contrário o resultado será o mesmo que o de dezenas de empresas que resolveram implantar um programa comportamental de segurança apenas para “mostrar trabalho” – muito dinheiro gasto e fracasso total! Uma das perguntas mais frequentes feitas pelas crianças ao serem instruídas é: “PORQUÊ?”.
Se os funcionários não entendem “o porquê” de um programa comportamental de segurança, é provável que sigam as orientações por um determinado período de tempo, mas que logo voltem aos (maus) hábitos aos quais estão acostumados.
Mesmo entendendo o porquê, é preciso muito tempo, dedicação e orientação para mudar um hábito, quanto mais um aspeto cultural. Para entender melhor este conceito, tente praticar o exercício abaixo:
Cruze os seus braços normalmente. Agora descruze e cruze os seus braços ao contrário. Por exemplo, se o seu braço direito ficou por cima do esquerdo na primeira vez, tente cruzar os braços novamente colocando o braço esquerdo por cima do direito. A maioria das pessoas sente-se desconfortável e muitos sentem dificuldades em fazer este exercício. Suponha que este exercício tenha sido uma formação de segurança e que você tenha sido orientado para que a forma correta de cruzar os braços para diminuir o risco de acidentes é a forma nova de fazer. Ainda assim é muito provável que na próxima vez que o leitor cruzar os braços, mesmo tendo sido informado que existe uma maneira mais segura de fazer, irá com toda a certeza cruzar da forma antiga como sempre o fez, como está habituado. Este exemplo simples mostra a importância do coaching nos programas comportamentais de segurança. Mesmo tendo o exemplo correto por parte dos superiores, consciência dos riscos e sendo treinado em como agir de forma segura, é preciso que cada funcionário seja orientado e motivado “constantemente” quanto a novas tomadas de decisões. São necessários anos para se mudar uma cultura de segurança.
Se houver comprometimento, motivação e objetivos claros para a implantação de um programa comportamental de segurança, qualquer programa pode ser útil, mas o coaching/orientação é o que fará com que os conceitos sejam mantidos ao longo dos anos, permitindo a formação de novos hábitos seguros através da tomada correta de decisões.
A figura n.º 1 representa um sistema de mudança comportamental com o objetivo de “zero acidente”. A implantação de um programa comportamental de segurança deve permitir a análise prévia das reações de cada tomada de decisão (ação), de forma que cada reação fora do padrão seja avaliada e controlada pela média e alta administração, que deve orientar os funcionários quanto às orientações de segurança, buscando a melhoria contínua do processo e mudança de hábitos ao longo do tempo.
Cada funcionário é antes de tudo, um tomador de decisões, independentemente de seu nível hierárquico na empresa, por isso precisa de informações que lhe permitam tomar as melhores decisões. Sem a orientação adequada e constante (coaching), aumenta a probabilidade de um funcionário se colocar em risco e causar/sofrer um acidente.
A figura n.º 2 mostra de forma simples como avaliar e controlar o sistema de conscientização de segurança. O programa comportamental de segurança deve gerar dados coerentes e realistas que possam ser mensurados e que permitam a identificação dos riscos que podem levar a acidentes. Estes dados devem preferencialmente ser levantados pelos próprios funcionários, pois somente quem está na rotina da atividade conhece os riscos que podem causar graves acidentes, na maioria das vezes imperceptível a um observador externo. Os dados devem ser tratados e transformados em informações que permitam a correta análise das prioridades, orientando as ações da empresa e dos funcionários para a obtenção de resultados melhores continuamente.
O levantamento de dados não deve ser atrelado à participação nos lucros ou qualquer fator motivacional baseado em premiações financeiras, pois a segurança é valor intrínseco, logo, não é negociável. Apesar disso, as atitudes e comportamentos seguros devem ser reconhecidos de forma a motivar os demais funcionários a agirem de forma segura.
Cada empresa é formada por pessoas diferentes e possui processos e aspetos culturais diferentes.
Um consultor externo pode ajudar na identificação do estágio atual da empresa quanto aos aspetos de segurança e motivação da alta e média administração para a implantação de um programa comportamental de segurança, mas sem a orientação adequada em longo prazo, é impossível criar ou manter hábitos seguros que levem a mudança cultural com o objetivo do “ZERO ACIDENTE”.