Todos os anos morrem mais de cinco mil pessoas na União Europeia em consequência de acidentes de trabalho (Eurostat, só existem estatísticas disponíveis até 2007). Embora o número de fatalidades esteja a diminuir e muitas empresas afirmem colocar a segurança em primeiro lugar, a segurança no local de trabalho, no seu todo, parece estar a estagnar.
Para investigar as causas desta aparente estagnação, a DuPont Sustainable Solutions encomendou um estudo entre dirigentes e gestores séniores de 300 empresas líderes de mercado em Portugal, França, Alemanha, Itália, Polónia e Espanha. As empresas participantes tinham pelo menos 2500 colaboradores, nos sectores do fabrico industrial, petróleo e gás, construção, automóvel, energia e serviços públicos, alimentação, transporte, aço ou logística. O estudo, conduzido através de entrevistas telefónicas de uma hora, concentrava-se na liderança em termos de segurança, estrutura organizacional, processos e acções, avaliação de resultados e formação em matéria de segurança.
Os resultados sugerem que existe um “colapso” conceptual devido a uma falta de empenho generalizado a nível de liderança. Embora a importância da segurança seja bem compreendida - 64% das empresas portuguesas consideram a segurança uma das suas principais prioridades - há falhas na implementação, que se traduzem numa aversão à responsabilização em questões de segurança, numa ausência de estruturas claras e, ainda mais importante, numa avaliação insuficiente do desempenho em matéria de segurança.
«(...) apenas 50% das empresas portuguesas medem os indicadores chave de desempenho em matéria de segurança (KPI). Esta foi a percentagem mais baixa de todos os países, o que levanta a questão: qual a monitorização efectivamente realizada em Portugal? (...)»
Responsável sim, Responsabilizado não!
Surpreendentemente, a maioria dos respondentes aceita a responsabilidade pela segurança, mas existe uma clara aversão à responsabilização - ninguém quer ser responsabilizado por um fraco desempenho em matéria de segurança. Embora a maioria dos respondentes portugueses veja a segurança como um esforço colectivo, 40% acredita que apenas o seu departamento de saúde e segurança é responsabilizável pela segurança. Isto indica que a estrutura da gestão de segurança não é tão clara como os respondentes podem sugerir.
DADOS, em Portugal:
- 40% acredita que apenas o seu departamento de saúde e segurança é responsabilizável pela segurança;
- apenas 24% dos participantes reportaram mais de 15 horas de formação em matéria de segurança por ano, enquanto essa frequência foi reportada por 52% dos participantes em Espanha;
- 86% dos participantes portugueses tenham dito que os seus líderes comunicam e demonstram o seu empenho na segurança, apenas 48% têm reuniões ou debates acerca de segurança mais do que uma vez por mês.
Menos Palavras, Mais Acção
Apesar do forte empenho verbal, é frequente os dirigentes das empresas não traduzirem esse empenho em acção. Este desfasamento está provavelmente relacionado com crenças específicas relacionadas com a segurança, uma das quais é a de que todas as lesões podem ser evitadas. Em Portugal e Espanha esta crença era generalizada (82% e 98%, respectivamente), enquanto o oposto era verdade na Alemanha e na Polónia. Isto pode ser atribuído à prevalência de uma indústria com grande intensidade de mão-de-obra em Portugal e Espanha, em comparação com a prevalência da indústria transformadora na Alemanha e Polónia. Embora 86% dos participantes portugueses tenham dito que os seus líderes comunicam e demonstram o seu empenho na segurança, apenas 48% têm reuniões ou debates acerca de segurança mais do que uma vez por mês. A formação também foi dada como insuficiente em Portugal, pois apenas 24% dos participantes reportaram mais de 15 horas de formação em matéria de segurança por ano, enquanto essa frequência foi reportada por 52% dos participantes em Espanha.
Sucesso sem Monitorização?
A divergência entre palavras e acções foi demonstrada também por uma divergência entre a definição de objectivos de desempenho em matéria de segurança e a avaliação desse desempenho. Os portugueses contaram-se entre os mais prontos a definir objectivos específicos (96%) e a investigar todos os incidentes e quase-acidentes (60%) - uma forma pró-activa de investigação. No entanto, apenas 50% das empresas portuguesas medem os indicadores chave de desempenho em matéria de segurança (KPI). Esta foi a percentagem mais baixa de todos os países, o que levanta a questão: qual a monitorização efectivamente realizada em Portugal? De facto, sem monitorização, é impossível averiguar a eficácia de um sistema de gestão em matéria de segurança, avaliar riscos, responsabilizar os colaboradores ou definir um plano de melhoria.
Fundamentalmente, a segurança é uma grande preocupação entre as empresas em Portugal, tal como no resto da Europa. No entanto, a ausência de uma abordagem coordenada, intransigente, à segurança significa que as lesões e fatalidades continuarão provavelmente a atormentar as empresas, a menos que sejam tomadas medidas para melhorar a cultura da segurança.